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Paris. Acompanhamos Cristina e as suas vagas aspirações a viver uma história, desconfiada de que viver a sua vida não é suficiente. As suas tentativas podem parecer ingénuas: seria mesmo preciso envolver-se com membros de uma contra-cultura subterrânea e esboçar uma aproximação romântica ao professor de desenho? Afortunadamente, o namorado de Cristina é um rochedo de bom senso e os amigos estão lá para as ocasiões. E o novo apartamento fica num bairro simpático, com comércio local e transportes à porta. Cai um aguaceiro. Trinca-se uma cereja. Alguém perdeu um gato. É tudo.

Poucos dias depois, em vez de Belleville foi Batignolles. Outra vez escolha de Stéphane. Batignolles servia tão bem como Belleville, Montmartre, Picpus, Passy. Dessa vez, foi Cristina quem cancelou. Não ofereceu explicações, quando falou com ele ao telefone. Na voz neutra, pouco mais do que a sincera pena por saber que seria a última vez. O final de um processo merece respeito, merece algo que o assinale. Esse sinal pode ser tão simples como uma sílaba separada das outras, uma inflexão, um adjectivo omitido.

Quando pousou o telefone, e durante mais tempo do que acharia normal, Cristina ocupou-se com a tentativa de imaginar como seriam os quartos de hotel em que não tinham chegado a entrar. Maçanetas de porta, cortinados, torneiras, aquecimentos, a maneira como os movimentos do mundo se infiltravam do exterior para o interior.

Relógio d'Água, 2016, ISBN 978-989-641-600-3

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