Nove contos sobre espaços que são nossos durante um período limitado para depois regressarem ao domínio público, ou serem tomados por um novo ocupante temporário. O leitor pode esperar uma profusão de gestos, manobras, frases e movimentações de mobília destinados a tornar quartos e apartamentos menos anónimos. Os exageros (reescrever na íntegra um clássico da teoria da religião comparada, defender que um quarto no Campo de Santa Clara deu outrora guarida a um poeta russo prestes a cair em desgraça, celebrar a memória de suicidas parisienses) são, nestas circunstâncias, desculpáveis.
– Ele estava a falar a sério. O meu namorado estava a dizer que o poeta Ossip Mandelstam (1891-1938), fundador do grupo acmeísta onde pontificavam Gumilyov e Akhmatova, entre outros, viveu no Campo de Santa Clara, no mesmo quarto onde ele me recebe, onde trocamos carícias fatigadas e as histórias do dia que passou. (Do conto “O Mesmo Poeta”.)
Editora Exclamação, 2015, ISBN 978-989-991-635-7